(spoiler: muito mais do que você imagina)
Aviso antes de começar:
Este texto não foi escrito por um especialista em economia. A intenção é informar de forma acessível, reunindo dados de fontes confiáveis e traduzindo o impacto de decisões políticas para o nosso dia a dia. Pode conter erros ou imprecisões, e estamos totalmente abertos a críticas, correções e complementos. O importante aqui é começar a conversa.
Antes de discutir o impacto direto no mercado de games, é importante entender de onde tudo começou. Como se iniciou essa guerra tarifária? Quem puxou o gatilho? E por que isso, que parecia uma disputa comercial distante, hoje encarece o controle do seu console ou a placa de vídeo do seu PC?
A seguir, você confere a linha do tempo e os efeitos reais da guerra tarifária iniciada por Donald Trump em 2018, e como ela voltou a ganhar força em 2025 com sua reeleição — atingindo em cheio o mercado de games no Brasil.
Como a Guerra Tarifária de Donald Trump Afetou o Mercado de Games no Brasil
Em 2018, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou uma série de medidas protecionistas, impondo tarifas sobre produtos importados da China. O objetivo era pressionar o país asiático em questões comerciais e industriais. Essa decisão gerou uma guerra tarifária com impactos que ultrapassaram as fronteiras dos dois países, afetando inclusive o mercado de games no Brasil.
Aumento no Custo de Hardware
Grande parte dos consoles, placas de vídeo, e outros componentes de hardware é fabricada na China ou depende de peças chinesas. Com as novas tarifas americanas sobre esses produtos, empresas como Sony, Microsoft e Nvidia passaram a ter custos de produção e importação mais altos. Mesmo que o Brasil não estivesse diretamente envolvido nas tarifas, o efeito se espalhou.
Essas empresas repassaram parte dos custos para os consumidores globais, elevando os preços finais dos produtos. Como o Brasil é altamente dependente da importação de eletrônicos, o impacto foi imediato. Além disso, a guerra tarifária contribuiu para a valorização do dólar frente ao real, tornando os produtos ainda mais caros para os brasileiros.
Reflexos nos Jogos e Serviços Digitais
No setor de software, o impacto foi mais indireto, mas também relevante. Plataformas como Steam, Xbox Live e PlayStation Network costumam operar com preços atrelados ao dólar. Assim, com a moeda americana mais valorizada por causa das tensões globais, os valores pagos em reais por jogos e assinaturas também aumentaram.
Embora algumas lojas adotem políticas regionais de preços, a oscilação cambial constante dificulta a manutenção de valores acessíveis no Brasil, especialmente para consumidores que dependem de compras digitais em lojas internacionais.
Efeitos a Longo Prazo
Além do aumento de preços, a instabilidade econômica gerada por conflitos comerciais amplia a insegurança no mercado de tecnologia e entretenimento. Isso afeta planos de expansão, investimentos em novas unidades de produção fora da Ásia e decisões de lançamento de produtos em países com moeda mais fraca, como o Brasil.
Em 2025, Trump Retoma a Presidência e a Guerra Tarifária – Impacto Real no Mercado de Games no Brasil
Em 2025, Donald Trump reassumiu a presidência dos Estados Unidos e rapidamente reativou sua política comercial protecionista. Dando continuidade à guerra tarifária iniciada entre 2018 e 2020, seu governo ampliou as tarifas sobre produtos chineses, com foco especial em tecnologia, semicondutores e eletrônicos — setores centrais para a indústria de games.
Essa nova onda de tarifas, que inclui aumentos de até 25% sobre chips, displays, placas de circuito e componentes de computadores, afeta diretamente a cadeia de produção global. Mesmo que o Brasil não esteja entre os países-alvo diretos, os reflexos são sentidos na ponta do consumidor brasileiro, especialmente em um mercado como o de games, altamente dependente de importações.
Impactos no Mercado de Games no Brasil

Aumento nos Custos de Hardware
A maior parte dos consoles, como o PlayStation 5, Xbox Series X e as placas de vídeo da Nvidia e AMD, utiliza componentes fabricados na China. As novas tarifas encarecem esses itens ao longo da cadeia de produção e logística, e os fabricantes repassam o custo ao consumidor final.
Por exemplo:
Uma GPU Nvidia RTX 4070, que nos EUA custava cerca de US$ 599, já aparece com aumentos médios de US$ 50 a US$ 100 em distribuidores internacionais, refletindo as tarifas e os custos de frete aumentados.
No Brasil, com a cotação do dólar em alta (cerca de R$ 5,30 em abril de 2025), o preço de uma RTX 4070 pode chegar a R$ 5.000 ou mais, considerando impostos e margem de revenda.
Consoles como o PS5, que já eram vendidos a preços entre R$ 3.800 a R$ 4.600, devem sofrer novos reajustes caso os custos de produção e importação continuem subindo.
Valorização do Dólar e Aumento de Preços de Software

Além do hardware, a guerra tarifária causa instabilidade nos mercados globais, levando investidores a buscar segurança no dólar. Isso valoriza a moeda americana frente ao real, o que afeta o preço dos jogos e serviços digitais.
Plataformas como:
- Steam (que apesar de ter preços regionalizados, ainda usa o dólar como base para jogos de estúdios internacionais);
- PlayStation Store e Xbox Store, cujos jogos AAA têm saído por R$ 349,90 a R$ 399,90;
- Assinaturas como Game Pass Ultimate (R$ 49,99/mês) e PS Plus Deluxe (R$ 59,90/mês), que podem ser reajustadas a qualquer momento com base na flutuação cambial.
Com o dólar acima de R$ 5, esses preços tendem a subir ou reduzir promoções e parcelamentos, dificultando o acesso da base consumidora brasileira.
E o Brasil nessa história?

A política brasileira, infelizmente, tem pouco ou nenhum poder de interferência nas decisões tarifárias dos EUA. Como o Brasil não é parte direta da disputa, sobra a ele apenas absorver os impactos, tentando atenuar com medidas internas — o que raramente acontece no setor de games.
Não há políticas públicas robustas voltadas à indústria de jogos eletrônicos no país. O mercado continua dependente de importação, com carga tributária elevada e infraestrutura tecnológica limitada. Ou seja: quando Trump espirra, o mercado brasileiro pega gripe — e a febre vem com os boletos da Kabum.
Se você ainda acha que “política não tem nada a ver com o meu joguinho”, talvez seja hora de olhar para o seu carrinho virtual e perceber que o preço do controle subiu R$ 300 do mês passado pra cá. O cenário global é um tabuleiro onde o Brasil joga como coadjuvante. A guerra tarifária entre EUA e China não só afeta a economia em larga escala, mas torna o acesso ao entretenimento digital mais caro e mais restrito para milhões de brasileiros.
E no fim das contas, o impacto real é esse: jogar vai continuar sendo um privilégio, e não um passatempo popular.
Fontes:
- Office of the United States Trade Representative (USTR). “Section 301 Investigation.” 2018.
- https://www.washingtonpost.com/outlook/2019/05/13/problem-consequence-trumps-trade-war-with-china/
- https://www.windowscentral.com/news/live/tariffs-2025
- https://m.economictimes.com/news/international/us/will-donald-trump-be-imposing-new-tariffs-on-playstations-and-gaming-consoles/articleshow/120289307.cms
- https://www.videogamesindustrymemo.com/p/trumps-trade-war-hits-video-games?action=share&utm_content=share&utm_medium=email&utm_source=substack
- https://www.linkedin.com/pulse/impact-tariffs-video-game-industry-chris-hewish-gdc-dzgde
- https://www.forbes.com/sites/davidthier/2019/06/27/sony-microsoft-and-nintendo-send-tariff-warning-to-trump-administration/
- https://www.foxbusiness.com/technology/microsoft-sony-nintendo-tariffs-video-game-consoles
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